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O nome desse livro de poemas “Deixando o Pago” de João da Cunha Vargas me faz lembrar uma história que ouvi do poeta gaúcho Vitor Ramil.

Em uma das vezes que o encontrei em São Paulo ele contou que viajava com seus músicos pelo Brasil e em uma de suas apresentações antes de “cantar” o poema Deixando o Pago de João da Cunha Vargas explicou à seus expectadores o porque do título do poema. Pago é, para o natural do Rio Grande do Sul, seu lugar de nascimento, sua região natal, etc.

Depois da apresentação um de seus músicos disse:

– Pô Vitor, pensei que deixando pago fosse ‘tipo’ ter deixado o aluguel pago ou algo assim…

O Vitor se matou de rir e disse que quando canta Deixando o Pago adora explicar o título, pediu desculpas aos que já sabiam ou já conheciam a história, mas disse ainda não conseguir deixar de contá-la.

Há alguns anos consegui um exemplar da única edição do raro livro de poemas Deixando o Pago: poemas xucros de João da Cunha Vargas editado pela Habitasul. Uma edição simples, muito cuidadosa e lindamente ilustrada por Glênio Fagundes.

João da Cunha Vargas nasceu em 28/12/1900 e não foi além das primeiras letras, como ele mesmo costumava dizer, não era muito manso de livros. Certamente aprendeu os segredos que nos conta ao ranger dos bastos e no tranco das tropeadas, talvez por isso sua poesia mais que repete o que o povo diz, ela tem uma inscrição pessoal poucas vezes vista.

Um nativista que se aproxima ao extremo das fontes tradicionais da poesia, poesia brotada em estado de pureza, sem contaminações intelectuais, feita para ser lida e declamada. João da Cunha Vargas sabia todos seus versos de cór – literalmente de coração.

Os poemas desse livro foram ditados pelo poeta a seus familiares ou retirados de fitas gravadas da época em que João da Cunha Vargas ainda interpretava seus poemas, como dizem, recriando-os na palpitação dos seus gestos comandados pela palpitação com que vivia, com seu timbre de voz ímpar, na névoa de seu olhar, na mistura de fogo e de nostalgia…

O poeta não está mais entre nós e se da morte me afugento a ela me entregarei com esperança de poder ouvir cada um desses versos.

(…)

E vou levar quando eu for

No caixão algum trofeu:

Chilena, adaga, o chapéu,

Meu tirador e o laço

E o pala guapo no braço

Pra gauderiar lá no céu.

                                           (Gaudério)

João da Cunha Vargas e seus versos me perseguem, me ajudam na perseguição que faço. Ele e Vitor Ramil sempre retornam a minha vida e a mim. Nesta semana eles voltaram, não estavam longe, mas voltaram…

Vamos enfrentar-nos mais uma vez.

O poema Gaudério pode ser lido em http://letras.terra.com.br/vitor-ramil/200616/ e ouvido em http://www.youtube.com/watch?v=GbNKIh_dPdI

3 pensamentos em “Deixando o Pago, de João da Cunha Vargas

  1. Ótimo teu blog! pena que não tenho um wordpress ou algo para adicioná-lo às minhas leituras! parabéns!

  2. muito obrigado, tenho tido pouco tempo pra escrever, mas é bom saber que gosta.
    Grande abraço,

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